sábado, 30 de maio de 2015

Falsidão #1

Larissa não sabe que eu sei que ela não sabe. E mesmo assim, todos esses anos ela moldou sua vida ao bel prazer pela minha vontade.

Hoje ela acordou mais tarde. Quase se atrasa para a escola. Se não fosse seu pai, Roberto, que chegava mais cedo do trabalho e não a levasse de carro para a escola ela perderia o fato de hoje em sua turma. No portão de entrada ela se despediu do pai. Sentia vergonha por ser levada até ali sob as asas dele. Mesmo pensando nisso, as horas agradeceram que ela chegou no tempo. Passou pelo portão com o porteiro de olhos fitados nela. Não prestava atenção no seu corpo, não não não — prestava atenção para a sua presteza com o tempo, e, ademais, seu uniforme: se a meia estava muito abaixo do joelho, se a saia era muito curta ou a luz do sol naquele dia era forte demais para calculadamente ver o sutiã um pouco mais escuro sob a roupa escolar. Ela adquiriu o passe de passagem psicológico.

Estava sozinha no caminho quando olhou para trás e viu seu pai a encarando do carro. Minto: não o viu, o vidro do carro era escuro demais para ela ver. Mesmo a luz que permitiria ver um sutiã não mostrava o interior do automóvel. Mas Larissa, dezesseis anos morando sob o mesmo teto que aquele homem, sabia por certo que no mínimo ele sofria uma preocupação paternal, nem que fosse no mero âmago onde só familiares e consanguíneos conseguem identificar. Também olhava, afinal, com suspeita e esperança de que não fosse a última a ter passado pelos portões do colégio.

Larissa queria beber água mas a este horário a aula já começava. Se bebesse no bebedouro se atrasaria mais meio minuto.

O professor, afinal, era o Richard de geografia. Ele não tolerava que alunos chegassem atrasados em sua aula. Não buscava saber o motivo, só queria que não chegassem… depois dele. Não gostava de ter que dar Boa tarde para cada aluno que entrasse depois enquanto estava completamente focado em preparar as coisas da aula.

Larissa passou por um deserto de almas até alcançar a porta da sala. A garganta seca, os cabelos colando no rosto do suor do sol, frio na barriga e 1,9 de tremedeira na mão. Pôs a mão na maçaneta; esquecera de bater na porta antes.

Aqui havia a chance de ela errar a sala como aconteceu das outras vezes. Não foi por sorte senão destreza pelo medo de cometer mais um erro estando num instante tenso como este que ela acertou a sala.

Viu a cara de Richard encarando-a com os óculos. Lembrou-se de seu pai. Será que teria o mesmo rosto dentro do carro? “Vai filha! Vai filha! Antes que você chegue atrasada!”, pensava ela estar falando o velho dentro do automóvel negro. Por certo, Richard também tinha expressões que só no pensamento eram faladas. Ela desgostava de caras que usam óculos. Não dá para ver neles e por esses o que eles realmente querem quando chegam pra falar com ela. O plástico dos óculos, afinal, uma substância morta, não deixa que ela faça uma leitura d’alma. Só podia ser um morto, uma porra que finge não ter alma, pensava ela.

— Boa noite, Elaine. — errou! Ponto para Larissa.
— É Larissa, professor. E boa tarde.
— É, sim, sim. Larissa, desculpe…

Dali da frente ela ouviu os alunos lá atrás sorrindo e rindo o pecado cometido ali em meio à sala.

— Falta mais alguém, pessoal?

De fato faltava: faltava Lucas e Matheus; um colega deles, junto com mais três que não conversavam muito com eles mas queriam mostrar certa compaixão pelos colegas e assim deixar transparecer que tinham alguma afinidade com eles, falaram sinceramente quem eram os que faltavam. O professor não deixou que terminassem a última sílaba de seus nomes.

— Vão ficar lá fora, pois já passou do horário do início da aula.

Larissa foi se assentar na fileira do canto, no meio dela. Sua amiga Clarice chamou sua atenção mal ela se sentou.

— Menina! Que cara é essa? Parece até que saiu da cama e veio pra cá.
— Nem te conto. Sabe quando você tem um sonho que mais parece a sua vida do que sua própria vida? Tive um desses hoje. Tinha que ver… muito estranho. Eu me via no sonho…
— Nossa. Mas acho que já tive sonhos assim também, só não me lembro direito.
— …E a “eu” do sonho nem parecia comigo mesma. Muito mais bonita, popular, gostosa, rica e feliz.
— Sonhou com o futuro? Já pensou?!
— Nada! É uma coisa que já vinha suspeitando desde que vi num post do face falando que faz bem escrever sonhos: você conhece mais sobre si mesma.  Pelo menos se procurar mais tarde num dicionário de sonhos, né.
— E tu acredita nisso?
— …
— Brincadeira. Eu também acredito. Minha mãe, tu, tua mãe, a gente, mulher, tudo acredita nessas superstições.
— Aí, a aula já vai começar.

Naquela tarde a primeira aula de geografia passou rápido como Larissa desimaginara. Por culpa de Richard, ela e Clarice não tiveram tempo pra conversa durante as explicações. Isso, embora, ocorreu algo incomum durante tudo isso. O estojo de Micaela sumiu de sua mochila. A princípio ela não sabia onde guardou, e depois, recorrendo a sua amiga Vanessa, esta lhe lembrou que sempre deixava o estojo na bolsa, afinal, era típico seu. Enquanto muitos deixavam encima da mesa por praticidade, ela mantinha na mochila. E sumiu. Alguém pegou ou ela colocou num local que já não se lembrava. Um ou dois, o tempo da aula passava e Micaela se desesperava para guardar o material que ficou — e ainda pegar o restante. A hora do recreio se aproximava e sem outra escolha, ainda que tivesse medo e fosse desacreditada por Richard, se ergueu da cadeira e foi sozinha cochichar no ouvido do professor que alguém “roubou” o estojo. Richard, sem querer acusar nenhum dos alunos, antes questionou-a se ela se afastou da mochila uma única vez. Ela disse que sim, mais cedo, quando foi beber água e ele não estava na sala. Ela era uma das que chegavam antes dele, uma das poucas que estavam na sala antes de tudo dar início. Sempre pegava o caderno e o material que precisaria e deixava encima da mesa meramente por hábito seu.

O professor ficou psicologicamente encurralado. Não havia o que fazer: faltava poucos minutos para o intervalo, mas, fechando a porta e dizendo que ninguém sairia até que o estojo de Micaela aparecesse encima de sua mesa, inocentemente ele envergonhava a garota na frente de todos e punha-na uma culpa que ela não merecia. Incutiu uma tensão na sala que já era demais até para sua pessoa.

Quem roubou o estojo de Micaela, isto é, se alguém roubou?

— Quem roubou o estojo de Micaela?

Quer mesmo saber? O que vai fazer se souber disso?

— É só para saber. Talvez faço um jogo com nomes, sei lá.

Pois então, foi sua própria amiga Vanessa que roubou. Enquanto Micaela estava fora, Vanessa quis pregar uma peça na amiga mas se esqueceu que  pregou a peça. Agora o tiro saiu pela culatra. A sorte que não há nada de valioso dentro do estojo, mas reconhecendo o espírito pessoal de Micaela… essa é a situação que seu professor Richard colocou os alunos sob. Não há para onde fugir.

— Eu posso dizer que fui quem roubei o estojo.

Sim, mas seria pior para você. Por que faria isso? Alguma segunda intenção da qual ainda narrarei?

— Não tenho nada a perder e também não me importo com o que vão pensar. Além do mais, sabe de uma coisa? Eu confio em ti pra inventar uma desculpa que convença-os.

Pois então, o estojo está na sua mochila. Você sabe que ele está no bolso da parte de trás que fica escondido — que quase não se vê — e o estojo quase não cabe, mas você sente ele formando um volume pelas costas. Lhe surge a mesma sensação de tensão de antes: além de chegar atrasada, rouba o estojo da colega. Uma decepção Larissa, que decepção… se sua mãe soubesse disso… e conhecendo Richard, ou melhor, desconhecendo-o, você não sabe se ele chamará os seus pais. Tudo por uma peça mal esquecida.

Enquanto isso Vanessa sente sua mochila perder volume. Ela não sabe da nossa comunicação. Micaela conversa com ela. As duas ficam nervosas. A outra sabe que a culpa não é de ninguém mais ou menos além dela. Micaela descrê que ninguém mais ou menos além da amiga pegou o estojo, afinal, só ela poderia ter feito isso e nunca o fez, somente agora, por que motivo?, ela pergunta-se.

— Não há motivo.

Não há motivo.

— Foi por brincadeira mesmo.

É, foi por brincadeira mesmo. Que fará, Larissa?

— Alguém botou o estojo na minha mochila para me culpar. É só escolher o mais zoado da turma que aposto que ele arca com isso.

Maique?

— Pode ser.

Larissa ergue a mão e se entrega. Ela de fato não queria estar naquela situação, mas era o único — seu — jeito de resolvê-la; ou não. Foi o que ela escolheu.

— O estojo tá na minha mochila, mas não fui eu que peguei, não. Alguém colocou na minha mochila.
— Larissa?! — diz Clarice espantada.
— Então quem foi?
— Não sei.
— Acusar os outros desse jeito quando foi você mesma quem pegou, é fácil demais…

Mas…

— Como? A Larissa acabou de chegar.

Eu disse que não ia dar certo.

— Você pode muito bem fazer eles se esquecerem desse fato.

Embora vá contra a lei natural da narrativa, os demais se esquecem que Larissa chegou atrasada e não pôde furtar o estojo de Micaela. Não foi ela. Isso cria um álibi para o álibi que ela quer criar.

— Então quem foi, Larissa? Quem você acha que foi?
— O Maique.
— Eu?!
— Você mesmo.
— Eu nem cheguei perto de tu, garota!
— É, todos acreditam que foi ele.

Todos acreditam em Larissa, todos creem que foi realmente como ela disse. Maique meteu a mão no estojo de Larissa, olhou se tinha algo valioso, mas como nada tinha, quis incriminar Larissa que nada tinha a ver com aquilo tudo. Seu plano quase deu certo.

Mais tarde Maique não desceu para o intervalo. Tudo por culpa sua, afinal, foi você quem escolheu incriminá-lo.

— Aposto que ele não está ligando.

Está sim, você não vê. Mas pelo visto também não se importa?

— Exato.

Larissa não pode ter controle sobre os outros personagens. Ela não pode nem deve roubar o meu lápis que traça a realidade das coisas, ainda assim eu venho a deixando usá-lo como quer, mas isso não pode ficar como está. Imagine se um homem pode comunicar-se e pede coisas diretamente a Deus. Como Larissa, a vida desse homem seria muito fácil e descomplicada. Todos os conflitos seriam simples de se resolver. E, de certa forma, não haveria história a ser contada.

— Como não? Eu ainda estou viva. Enquanto eu estiver viva terá história pra contar.

As pessoas não querem saber de um ser que consegue tudo o que tem facilmente. Elas querem ver esforço, ouvir batalhas, lerem sobre o sangue derramado por algo que você deseja. O que você deseja, Larissa?

— Ter vida boa, já não disse?

Mais “boa” do que já é?

— Sim, melhor. Por que não? Ou vai me dizer que não pode? Na verdade… já sei qual é o seu problema.

Que problema?

— Você tem medo. Tem medo de fazer certas coisas porque elas implicariam em algo diretamente na narrativa, até no seu modo de narrar. Por isso eu te peço umas coisas e você não faz…

Nem tudo eu sou capaz.

— Mentira! Troque de lugar comigo, anda. Me torna uma narradora também!

Não posso fazer isso.

— Pode sim. Desde que eu tenha voz eu posso narrar qualquer coisa. Aqui, ó, se me deixar falar eu conto a história do meu cãozinho! Seu nome era Tim

Se me deixar falar

Larissa se esquece da sua vulnerabilidade como personagem. Mesmo que ela conte a história, a história que quiser contar, sou eu quem decido se ela terá voz ou não na narrativa. Eu só não posso matá-la, nem tornar sua vida isenta de conflitos. Se fizer isso eu paro — paro de ser eu mesmo.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Não faz diferença

— Oi bebê, tudo bom?

Na volta Júlio ligou para a mulher e ela atendeu e tais palavras lhe lançaram uma miscelânea de sensações, sobretudo dúvida e medo, preocupação e tensão e, por último, incerteza; todo o abstracionismo de que tem-se quem sente ou está conhecendo paixão. Entretanto, fazia três anos que os dois enamoravam-se e recentemente - exatamente um ano e meio - ao conseguir o novo emprego, dia a dia Júlio liga para a esposa-namorada a fim de saber como esta está; preocupação puramente vã, pois, conhecendo-a saberia que sempre está em casa porque nunca sai.

Nunca sai: não tem muitas amigas - e nem amigos - nem para onde ir. A certeza, por certo decerto, é de que toda vez que ligar nesse horário ela estará em casa, segura, talvez sã e queira Deus salva. Ainda assim, isto e aquilo o pobre Júlio…

— Tá onde? — era, afinal, como se sucedia as ligações.
— Tô em casa, por quê?
— Tu falou “Oi bebê”. Tá tendo alguma coisa aí?
— Não, só está eu, minha mãe e meu irmão aqui.

Três anos e fingia não conhecê-la. A verdade sobre Júlio é que não era um cavalheiro modelo. Tinha seus pecados — não!: ainda os cometia, mas sua condição como homem e contador de mentiras — pois o Diabo não perdoa homens que não mentem — agravava menos as suas sinas. Afinal, sua preocupação atual advinha de uma experiência complicada de alguns episódios acidentais.

O que mais poderia semear a paranoia? Mero castigo divino? A sucessão escatológica do destino daqueles que não merecem um relacionamento?

A merda já estava feita e Júlio nada podia para desfazê-la.

— É que geralmente você tá irritada… mas enfim, tá tudo bem aí?
— Você acha que eu sou irritada?
— Não foi isso qu…
— Se bem que hoje eu estava irritada no trabalho, mas já passou.
— Por quê?
— Por que o quê?
— Por que que já passou?
— Quer lembrar e me deixar irritada contigo?
— Não, não…

Júlio era um cidadão comum, mas agora se encontrava dividido entre dois polos que constituem uma faceta da natureza humana: o medo e a curiosidade.

Havia de decidir entre manter silêncio, mergulhar na dúvida e insegurança, ou aceitar o fruto proibido do conhecimento e cair em perdição.

Sem poder desvirtuar-se de seu caráter, foi pelo caminho difícil:

— Passou alguém aí?
— Quem passaria aqui?
— Ah — ninguém passaria lá; agora ele confiava na sua habilidade de mentir — o Cláudio disse que ia passar mais cedo.
— Cláudia?
— Não, o Cláudio…
— Quem é Cláudio? Não conheço nenhum colega seu chamado Cláudio…

De fato, Cláudio não existia na vida de Júlio. Ele escondia o fato que o único Cláudio era na verdade uma Cláudia, conhecida sua. Foi nela que ele pensou quando mentiu; dizem que em toda mentira existe uma verdade por trás.

— Você vai voltar que horas?
— Não sei. Sente muito minha falta?
— Agora não, mas se demorar muito é capaz de sentir.

Júlio queria xingar, se conteve.

— Brincadeira. Pode demorar o quanto quiser que saudade não mata não, ô.

Ouvindo-a, Júlio desligou o celular e pressionou o pedal da motocicleta. Voou pela estrada em direção à casa da sogra. Sem se dar por ciente, passou por uma rua que não conhecia e aparentemente esqueceu o caminho. As mentiras o assombravam: tinha a Cláudia na mente e para ela foi.

Encostou a moto no muro, abriu deliberadamente o portão com a maçaneta ruim e subiu a escadinha para chamar sua noiva. Gritou o nome dela, Paloma!, três vezes. Na casa, tudo, até as janelas estavam fechadas. Ele não via e nem ouvia nada de dentro. Talvez ela mentiu mesmo e estava em outro lugar, pensou. Virou as costas para ir-se e passar na casa de Rodrigo, mas mal tornou o corpo uma mulher abriu a janela.

— Júlio?
— Cláudia?

A loira estava acabada, brutalmente arruinada. Era uma bruxa com o rosto cansado e o cabelo descabelado, além da roupa: um mero pano branco.

Júlio olhou-a e cogitou do que se tratava.

— Que que você faz aqui?
— Foi mal. Eu tava indo pra casa e errei o caminho.
— Errou o caminho?… Precisa de alguma coisa?
— Não, não. Hoje não.
— Da próxima vez não me vem com essa de “errei o caminho”. Sabe que hoje é quarta, não é quinta.
— As pessoas erram, tá bom? Tchau.

E ele se foi na moto, avoado. Na estrada quase sofre um acidente com um caminhão, por sorte o que ouviu foi apenas as reclamações do condutor. Percorreu todo um caminho para fazer a volta e passou por curvas verdadeiramente mórbidas.

Ao chegar na casa de Paloma seu uniforme fedia a suor e seu rosto vazava líquido dos poros por qualquer razão senão medo e tensão.

A porta destrancada, entrou implodindo adentro. No sofá da sala estava Rodrigo no celular, usando o seu wi-fi.

— Que que tu faz aqui, meu chapa?!
— Que que ele faz aqui, Júlio?! — era Paloma quem dizia essa frase saindo do banheiro.
— Vim te entregar a parada.
— Porra! E tu não passou mais cedo?!
— Passei, pô, mas só tava tua noiva em casa. Ela falou pra te esperar e tô aqui te esperando.
— E nem pra me avisar…
— Ele veio reclamar comigo que ligava e ligava e tu não atendia!… Tu tá todo suado, tava onde? — perguntou Paloma.
— Passei na casa do Cláudio, que te falei.
— Ah tá.

Ainda que discretamente, investigou tudo que tinha de ser, e Júlio por fim se acalmara.

Nesse mesmo dia ele conversou com Paloma e perguntou:

— Por que naquela hora você não disse que o Rodrigo tava aqui?
— Porque você queria saber se eu estava sozinha, não? Pois então, minha mãe e meu irmão estavam em casa.
— Mas o Rodrigo também não estava?
— Ah, esquece isso. Não liga não, com meu irmão ou minha mãe em casa nem faz diferença.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Olhos de Condor - Segundo Capítulo

Olhos de Condor II / Por: Bezerra Reyes.



 Tudo estava pronto, Edgar já tinha anotado o endereço do café salence e a descrição da mulher de Giuseppe, segundo o próprio; quase uma alteza, com olhar penetrante, longos cabelos loiros, lábios enormes e sempre com um casaco de pele de gambá, presente do seu ex-marido. Na maioria das vezes com um cigarro na boca e com o queixo apoiado em cima das duas mãos enquanto estava sentada sobre uma mesa.

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- Pelo visto ela parece ser durona, não? – Perguntou Edgar
- É, principalmente com seus capachos que ela chama de maridos.
- E então, por que ainda tem um relacionamento com ela? Já que lhe trata tão mal e ainda parece ser alguém que não fica quieta em um canto só, se é que o senhor me entende.
- Creio que seja amor, não sei muito bem; é algo que ainda não sei explicar.

 Edgar então ofereceu mais um pouco daquele malte horrível para Giuseppe, que recusou.
- Não, agradeço. Mas essa dai parece ser ruim, hã? Isso é malte? – Perguntou Giuseppe.
- Deve ser, é um dos baratos que eu compro nas feiras da sexta, nas barraquinhas de bebidas caseiras por aqui perto.
- Certo. Com sua licença...? 

 Giuseppe então levantou-se, cumprimentou Edgar e disse;

- Ouça, eu quero fotos dela, registros nítidos, sabe?
- Não tenho uma câmera. – Respondeu Edgar
- Como assim? Que porcaria é essa? Como um investigador trabalha sem uma câmera?.
- Fique tranquilo, porque isso é o de menos, okay?

 Giuseppe mostrou uma leve expressão de negação e dúvida, pensou um pouco e confiou em Edgar, que desta vez foi ele quem estendeu sua mão. 

- Ótimo, depois de amanhã pode vir até aqui, já estará tudo empacotado. – Disse Edgar.
- Tudo bem, até logo! – Despediu-se Giuseppe.

 Giuseppe então foi até a porta e estranhou a falta de cordialidade de Edgar, que não tinha ido até lá abrir a porta, até por que, ele era o convidado daquela espelunca. Edgar fez apenas um sinal para ele rodar a maçaneta e sorriu, Giuseppe o faz, mas antes do velho fechar a porta, Edgar chamou sua atenção;

- Ei, ei; vai com calma, meu amigo. Cadê o pagamento? – Perguntou Edgar.
- Ah, eu já tinha esquecido. Olha... Eu posso entregá-lo depois de amanhã, quando eu vier buscar o que conseguiu?
- Não, eu tenho que receber antes do trabalho, caso o contrário eu não faço o meu papel direito, compreendeu? – Disse Edgar.

 Giuseppe ficou furioso e disse;

- Está certo, está certo. Amanhã pela manhã eu venho até aqui e entrego o pacote com o dinheiro, pode ser?
- É... Pode sim, mas venha o mais cedo possível. – Respondeu Edgar.


 Os dois se despediram pela última vez, o detetive voltou foi até a janela e pensou sobre o caso da mulher, parecia que ele desconfiava de algo após saber das características da mulher, pensou mais alto, enquanto mexia nas persianas e olhava para o tráfego de carros na rua, até a saída de Giuseppe do prédio e a sua entrada na limousine negra.

FIM da segunda parte.

Olhos de Condor - Primeiro Capítulo

Olhos de Condor I / Por: Bezerra Reyes



-        Quero que descubra o que minha esposa faz às cinco e meia da tarde. - Pediu o velho gordo.
-        Não seria mais fácil perguntar à própria?
-        Eu sempre pergunto, mas ela sempre dá a mesma resposta. - Respondeu o velho.
-        E qual a resposta que ela dá? - Perguntou o suposto detetive
-        Eu vou no café salence com as minhas amigas de sempre; É sempre a resposta dela, toda vez, quase sempre no mesmo horário, porque tem dias que ela vai umas seis da tarde. - Respondeu o gordo.
-        Já foi até o café salence para saber se ela realmente estava lá? - O detetive questionou.
-        Claro que fui, na terceira vez eu tive que ir, perdoe pela minha desconfiança na minha mulher, mas eu sou muito confuso, qualquer coisa fora do normal, que saia dos meus planos metódicos, me deixam louco. - Respondeu o velho gordo.
-        É, eu sei como é, somos dois metódicos, Sr. Giuseppe.

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 O ambiente era agonizante para qualquer um. A segunda sala do departamento privado do Sr. Tobias ficava no vigésimo terceiro andar do prédio Gregoryah Palace. A sala não possuía ventilação, Tobias era um homem chato e incomum, não abria às janelas nem se alguém o pedisse com educação. Não tinha uma mulher para chamar de meu amor, morava sozinho na terceira sala do seu departamento privado, que servia também de banheiro para os clientes. A segunda sala era composta por uma mesa rústica que Edgar usurpou da casa de seus pais assim que eles foram assassinados; não foi nada surpreendente para Tobias, já que seu pai era metido com pequenos grupos mafiosos da região onda morava, era de se esperar sua morte a qualquer momento, juntamente com sua madrasta, que teve que assumir o papel de mãe, já que a do garoto (Tobias) apenas o pariu e foi embora com um velhote, dono de uma fábrica de frangos fritos genéricos. Além da mesa, sua máquina datilográfica e sua estante com livros que ele nunca sequer leu, com uma partição dos dois lados, ambas com garrafas cheias dos piores maltes que alguém poderia experimentar. Sua poltrona já com pequenos furos que deixavam o algodão interno exposto, poltrona de couro; mais um que saiu da casa de seus pais. E por último, as janelas com persianas, o seu maior passatempo era ficar puxando a corda da persiana, abrindo, fechando, abrindo, fechado, abrindo e fechando obsessivamente, até que alguém o interrompesse, algo que Tobias odiava era a interrupção, especialmente se ele estivesse desligado do mundo, mexendo nas persianas, as grandes persianas. O único detetive do país que não usava máquina fotográfica, isso por ser também, o único detetive que não deixou a falta de grana acabar com seus objetivos. E para deixar exposto mais ainda o seu amor pelas persianas e janelas, as quais ele não tocava se não fosse caso de urgência grave; Tobias sempre falava aos seus clientes que o perguntavam sobre a câmera, ele sempre respondia e acrescentava; Com o dinheiro das investigações, quem sabe eu possa conseguir uma. E a primeira foto que irei tirar, para comemorar o dia, é das minhas lindas janelas com essas persianas, quem precisa daqueles quadros caros do Van Gogh, quando se tem três janelas embelezando o lugar?


           FIM da primeira parte.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Ele e A Succubus

À noite, numa rua deserta, encostado num poste de luz estavam ele, e ela, fazendo coisas obscenas dignas de serem invisíveis para os olhos públicos. O rapaz lançava gemidos de contentamento, pequenos ruídos que atiçavam mais ainda a vontade dela.

Seu instrumento estava totalmente coberto pela sua boca, e ele podia sentir que a qualquer momento entraria em erupção sem pré-avisos. Ela, continuou ferozmente chupando aquilo, como um animal selvagem que passou anos num deserto e finalmente encontrou a comida que foi feito para comer.

O rapaz já não aguentava mais, e pediu uma trégua, para que fossem até um local onde ele poderia descansar. Mas ela não queria. Atravessaram a calçada, e ele, às custas, andava com aquela coisa pesada entre as pernas, pingando esmegma, bêbado de tesão, com a alma quase escapulindo do corpo de tanto êxtase. Enfim sentou-se num banco de madeira, daqueles de praça, perdido numa calçada. Ela continuou o ataque. Estava frio, era madrugada, mas a área da virilha do rapaz estava fervendo tipo lava. Mordia os lábios para resistir à ejaculação, e estava consciente de que seu corpo derretia. Seu corpo estava como um sorvete sendo chupado por aquela diaba de sêmen, e parecia que toda a sensibilidade do seu corpo estava concentrada naquele ponto, no seu penis erectus. Se ele aspergisse o seu sêmen na boca dela, a alma sairia junto.

Ela tinha luvas negras, de tecidos finíssimos e muito colada na pele. Tinha uma espessura escorregadia, tanto que quando agarrava e brincava com as bolas dele, com seu tato sentia os espermatozoides indo à loucura dentro daquilo.

O rapaz estava fora de órbita. De fato, não estava mais consciente. Ele estava morto, não estava mais ali, sua alma não estava mais no seu corpo, e nada mais, além daquele demônio, poderia despertá-lo. Ele era seu pênis. Sentia a língua quente dela se enrolando nele, como uma língua de cobra com ponta dupla. E a sucção. Ah, a sucção, era como comida para um monstro.

“Pode ejacular quando quiser” ele ouviu de longe. Ele ejaculou, ou pelo menos tentou. Não estava conseguindo, alguma coisa o impedia. Isso o deixou maluco, parecia que todo o sêmen estava sendo guardado e acumulado e quando saísse seria como uma bomba. Ela estava com os dedos em forma de anel no fim do escroto e começo do falo. Prendia a sua ejaculação, e a sensação era de que seu pau iria explodir quando ejaculasse.

Suas mãos instintivamente pegaram-na pela parte de trás da cabeça. Sentiu os cabelos grisalhos e lisos. Era uma criatura única, assim como a sensação e a situação. Tinha os cabelos brancos de uma idosa, mas eram muito brancos que pareciam tingidos. Entrava em contraste com sua fantasia negra como a noite, e essas cores monocromáticas somadas ao acessório rosa que ela usava na cabeça dava-lhe um tipo de impulso prazeroso. Era a cor rosa na cabeça; era o seu rosto inocente; o comportamento vadiesco; o frio no corpo e o aquecedor bocal; a forma selvagem e animalesca de sucção; o simples fato de pensar que estava fodendo oralmente algo que não é deste mundo, natural de seu instinto corruptivo para coisas divinas e sagradas, dava-lhe um tesão que ninguém jamais sentira antes.

Quando o tecido de sua luva largou um pequeno escorrego na pele de seu instrumento, nada pôde conter a força com que seu sêmen ia até a boca dela. Mas o mais inconcebível era a capacidade dela de continuar sugando e engolindo toda aquela água branca e quente. Ele sentiu o escroto de seu pau murchar com a pressão que ela fazia. Quanto mais ele ejaculava, mais forte ela chupava. Houve um momento em que ele teve que fazer força para conter o sêmen, pois parecia que a coisa andava no seu pau sem sua vontade, apenas com o impulso da sucção dela. Sentia que ia morrer, mas ao mesmo tempo sentia que atingira o ápice do prazer. O prazer era tanto que seu pau doía de tesão. E seu corpo parecia estar dormente, como se, de fato, estivesse vazio, sem uma alma.